quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

AS 5 FUNÇÕES DA LITERATURA. ELAS MEXEM COM O SEU CORAÇÃO E SUA MENTE

 

As 5 funções da literatura. Coração e mente

 

Quando você pega um livro na estante e senta-se, confortavelmente, para desfrutar da leitura ou mesmo quando baixa um e-book para ler no computador ou celular, alguma motivação o levou a isso.

 

Talvez o que o tenha motivado a escolher determinado livro seja a sua necessidade de encontrar respostas a problemas políticos e sociais. Outra possibilidade pode ser o desejo de se envolver emocionalmente com a leitura e extrair dela prazer, alegria, raiva ou uma infinidade de sentimentos.

 

Pode ser também que você tenha escolhido o livro de um escritor que você admira, não só pela história em si, mas principalmente pela maneira que ele escreve, a qualidade de sua escrita o que torna suas obras sempre belas e com perfeição artística.


Quem sabe você queira adquirir novos conhecimentos, ou se aprofundar naquilo que você de alguma forma já conhece. Finalmente, você pode querer apenas relaxar, se entreter, curtir a sua “viagem” na história escolhida.


 


Caso você não tenha percebido, acabamos de passar pelas 5 funções da Literatura.  Aristóteles foi o primeiro pensador que discutiu sobre as funções da literatura em sua obra Poética, definindo as três funções dos textos literários: a cognitiva, a estética e a catártica


Contudo, no contexto atual, estudos diversos incorporam outras funções da literatura, que você irá conhecer em detalhes logo abaixo.


 1- Função político-social – realizar críticas sociais e políticas 


Como o próprio nome diz, a obra literária que você está lendo pode estar descrevendo um retrato da realidade na qual o escritor está inserido. Ele pode descrever, criticar, ironizar ou satirizar os problemas encontrados na sociedade da qual ele faz parte.

 

Alguns chamam isso de literatura engajada. Nesse universo podem ser agrupadas questões como o racismo, a corrupção política, as guerras, os conflitos separatistas, o coronelismo, a seca e mais uma infinidade de acontecimentos político-sociais. Exemplos:

 

Morte e vida Severina – João Cabral de Melo Neto;

Germinal – Émile Zola;

Crime e castigo – Fiódor Dostoivéski;

Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis.


Trecho do poema Morte e Vida Severina, que foi musicado por Chico Buarque e encenado no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, na década de 1960.


 


2- Função catártica – liberar emoções e sentimentos 


A palavra catarse (do grego catharse), significa purificação, purgação. Foi usada por Aristóteles ao afirmar que as tragédias (representações teatrais) purificam as emoções. 


Em Literatura, catarse pode ser uma espécie de descarga emocional que provoca no leitor ou no escritor um certo alívio da tensão ou da ansiedade psicológica ou moral.

 

Ao ler determinado livro, você pode vivenciar situações emocionais extremamente fortes que provocam em você sentimentos de alegria, raiva, tristeza, solidão, revolta ou realização. Essa função predominante, é claro, será diferente de leitor para leitor.

 

No caso do escritor, o ato de escrever pode se constituir em uma catarse, porque muitas vezes, ele escreve para desabafar, pôr para fora suas tensões e sublimar suas frustrações. 


Ao vivenciar as emoções e tensões transmitidas pelos personagens das narrativas, o leitor ou o escritor estariam descarregando suas próprias tensões, medos, frustrações e assim se libertando dessas emoções negativas.

 

A música Como Nossos Pais, que fala sobre o conflito de gerações acentuado pela repressão da ditadura militar, foi composta na década de 1970 por Belchior, e imortalizada na voz da musa Elis Regina. 


A canção foi lançada no álbum Alucinação, tornou-se um dos maiores clássicos da música popular brasileira e aparece na revista Rolling Stone entre as 100 melhores músicas brasileiras da história.


 


                         

Belchior usou a palavra “incômodo” para descrever a sensação trazida pela canção. Ele descrevia Como Nossos Pais como uma música amarga, uma crítica à inércia da juventude, que se acomodou quando não devia e parou de questionar.    

 

3- Função estética – gerar admiração pelo belo 


O principal objetivo é provocar admiração no leitor devido à perfeição artística com que o autor trabalha o texto. Você percebe e valoriza a beleza da obra e isso também lhe dá prazer. Poetas parnasianos buscavam sempre o belo. Eles “construíam” um poema como o escultor esculpe o mármore até ter sua estátua perfeitamente acabada.

 

Olavo Bilac – Parnasianismo. Devido à habilidade de compor poemas com rima, ritmo e métrica perfeitos. No poema Profissão de Fé, compara o trabalho do poeta ao artesanato de um ourives na produção de uma joia.




Guimarães Rosa – 3ª geração do Modernismo: devido à capacidade de criar um vocabulário e realidade únicos para suas obras.

 

Considerado o maior escritor brasileiro do século XX, praticamente “reinventou” a língua portuguesa. Ele construiu novos vocábulos que liberam a língua de sua função meramente utilitária, recuperando a linguagem poética.

 

Sua Literatura é uma fusão de arcaísmos, cultura popular e mundo erudito. São principalmente as localidades rurais e seus universos de pobreza, sempre periféricas ao mundo do capital e da divisão do trabalho, que aparecem na sua obra.

 

Neste trecho do livro Manuelzão e Miguilim você pode observar características das funções político social e estética.

 



4- Função cognitiva – transmitir conhecimento


O principal objetivo é a aquisição do conhecimento. O escritor tem uma percepção (conhecimento) pessoal da realidade que o rode e produz textos que comunicam esse conhecimento ou percepção, onde sentimento e razão se fundem. A obra literária, assim, exprime esse seu conhecimento intuitivo e estético a respeito da realidade que o rodeia.


No poema Dois e dois: quatro, o poeta Ferreira Gullar revela seu conhecimento sobre a vida, que apesar de expressar uma percepção bem pessoal, acaba apresentando aquilo que a maioria das pessoas percebem na própria vida.

 


 

5- Função lúdica – entreter, relaxar, envolver 


A literatura pode ter também a função de simplesmente entreter o leitor, ou seja, divertir e proporcionar algum tipo de prazer, como relaxamento e diversão.

 

Essa é a função mais básica da literatura, pois, na realidade, o leitor sempre está em busca de textos literários que possam envolvê-lo, ou seja, “prendê-lo”.


Luis Fernando Veríssimo escreveu uma série de livros que abordam o cotidiano das pessoas em situações as mais bizarras com muito humor e profundidade. É justamente o humor que envolve o leitor numa atmosfera relaxante e prazerosa. Um desses livros é As mentiras que os homens contam. Também escreveu As mentiras que as mulheres contam.


Quantas vezes você mente por dia? Calma, não precisa responder agora. Também não é sempre que você conta uma mentira, só de vez em quando. Na verdade, quando você mente, é porque precisa. Para proteger o outro e, de preferência, a outra. Foi assim com a mãe, a namorada, a mulher, a sogra. Tudo pelo bom convívio social, pela harmonia dentro de casa, para uma noite mais agradável com os amigos. Você só mente, no fundo, para poupar as pessoas e, sobretudo, para o bem das mulheres. Luis Fernando Verissimo, este observador bem-humorado do cotidiano brasileiro, reúne em As mentiras que os homens contam um repertório divertido de histórias assim ― tão indispensáveis que, de repente, viram até verdades. Depende de quem ouve. Depende de quem conta.




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