domingo, 20 de março de 2022

TROVADORISMO – A POESIA E A MÚSICA EM MEIO AO TEOCENTRISMO E AO FEUDALISMO




Na postagem anterior falamos sobre Gêneros literários e as escolas literárias. Vamos dar início agora ao estudo do Trovadorismo na Europa.

O Trovadorismo e o mundo dominado pelo teocentrismo e pelo feudalismo


O Trovadorismo foi um movimento literário caracterizado pela produção de cantigas líricas (sentimentos e emoções) e satíricas (críticas diretas ou indiretas), escritas pelos trovadores, daí o nome do movimento. 


Ocorreu somente na Europa e teve como principal característica a aproximação da poesia e da música. Foi um dos gêneros literários mais populares da Idade Média, ao lado das novelas de cavalaria, relatos em prosa dos cavaleiros andantes.


 



Considerado o primeiro movimento literário europeu, reuniu registros escritos da primeira época da Literatura medieval entre os séculos XI e XIV. As poesias eram feitas para serem cantadas ao som de instrumentos musicais como flauta, viola e alaúde. Por isso eram chamadas de cantigas.

 

Contexto histórico


A Idade Média foi um período histórico que durou de 476 a 1453. A sociedade medieval estava dividida entre clero, nobreza e povo. A Igreja Católica era detentora do poder político e econômico no Ocidente. Nessa época, predominou o teocentrismo, a ideia de que Deus é o centro de tudo.

 

O homem ocupava um lugar secundário e ficava à mercê dos valores cristãos. A igreja católica medieval era a instituição social mais importante e a maior representante da fé cristã. Era ela quem ditava os valores que influenciavam diretamente o comportamento e o pensamento do homem.




A Europa estava imersa em uma guerra santa, as Cruzadas, entre cristãos e muçulmanos (mouros). O Tribunal do Santo Ofício torturava e condenava à fogueira aqueles que se opunham ao que era imposto pela Igreja.


A maioria da população era analfabeta, a escrita e a leitura estavam restritas ao clero e a alguns nobres. Os livros eram muito caros, pois as obras eram manuscritas e desenhadas por copistas. A maior parte da arte produzida nesse período era de cunho religioso.

 

Desenvolvimento do Trovadorismo


O Trovadorismo desenvolveu-se durante o período medieval, principalmente a partir do século XII. À época, não existiam ainda os Estados nacionais e o feudalismo era o sistema econômico, político e social vigente. A Europa encontrava-se dividida em feudos, grandes propriedades controladas pelos seus proprietários. A sociedade era rural e autossuficiente, mas o camponês vivia na miséria.




Existia uma relação de suserania e vassalagem. O suserano, senhor do feudo, precursor da nobreza europeia, oferecia proteção aos seus vassalos que, em troca, cultivavam, fiavam e forjavam as armas.

 

Trovadores e cancioneiros

 

trovador era o autor das cantigas, o jogral as declamava e o menestrel, além de recitar também tocava os instrumentos. O menestrel era considerado superior ao jogral por ter mais instrução e habilidade artística, pois sabia tocar e cantar. Os trovadores viajavam entoando suas cantigas.


 



Todos os manuscritos das cantigas trovadorescas encontrados estão reunidos em cancioneiros, coletâneas de textos medievais preservados em Portugal. Embora o Trovadorismo tenha surgido na região da Provença (sul da França), ele se espalhou por outros países da Europa, pois os trovadores provençais eram considerados os melhores da época.






Surgimento de novas línguas 

 

Com o declínio do Império Romano, a partir dos séculos IV e V, o latim vulgar, língua oficial de Roma, passou a sofrer modificações entre os povos dominados. Foi nesse longo período da Idade Média que começaram a surgir as línguas neolatinas, como o português, o espanhol, o francês, o italiano, o romeno e o catalão. No entanto, foi apenas no século XIV que o português surgiu como língua oficial; as cantigas dos trovadores foram escritas no dialeto provençal.

 

A língua galego-portuguesa foi estabelecida como oficial do reino por Dom Dinis I, no final do século XIII. E ele mesmo era um rei-trovador. O desejo do monarca poeta era que Portugal se constituísse como nação de fato, incentivando a identidade cultural e o Trovadorismo. O movimento teve extrema importância no desenvolvimento do idioma e da cultura portuguesa.


O Trovadorismo em Portugal (1189 ou 1198 – 1418)

 

Portugal tornou-se um país independente ao se separar do reino de Leão e Castela, em 1140. O galego-português era o idioma falado. Com o novo Estado, surgiu também a Literatura portuguesa. 

 

O Trovadorismo português teve seu apogeu nos séculos XII e XIII, entrando em declínio no século XIV. O ano de 1189 (ou 1198) é considerado o marco inicial da Literatura portuguesa e do movimento do Trovadorismo.

 

Essa é a data provável da primeira composição literária conhecida, a Cantiga da Ribeirinha ou Cantiga de Guarvaia, escrita pelo trovador Paio Soares da Taveirós, em 1189 ou 1198, e dedicada a dona Maria Pais Ribeiro, a favorita do rei Sancho I, que viveu entre os anos de 1154 e 1211. Escrita em galego-português, ela é o registro mais antigo que se tem da produção literária nas terras portuguesas.





Península Ibérica foi o centro irradiador do Trovadorismo, na região que compreende o norte de Portugal e a Galícia, região localizada no norte da Espanha. A Catedral de Santiago de Compostela, centro de peregrinação religiosa, atraía multidões desde o século XI. Ali, as cantigas trovadorescas eram cantadas em galego-português, língua falada na região.

 

A Literatura portuguesa do século XII não possuía ainda uma noção de identidade nacional plenamente instituída. O território fazia parte do Condado Portucalense e do Condado da Galícia, terras dadas como presente de casamento a soldados cruzados que desposaram duas moças nobres.

 

D. Afonso Henriques transformou os dois condados em um reinado, mas ele mesmo só foi reconhecido como monarca ao reconquistar essas terras resguardado pelo poder e força da cristandade.

 

A identidade dos trovadores, portanto, não era portuguesa, mas ibérica e hispânica. A origem desses compositores era Leão, Galícia, o reino português, Castela etc. O Trovadorismo teve seu declínio no século XIV, quando começou outro movimento da segunda época medieval portuguesa: o humanismo.

 

Na próxima postagem, falaremos das características do Trovadorismo e também sobre os autores mais importantes.

terça-feira, 1 de março de 2022

GÊNEROS LITERÁRIOS E ESCOLAS LITERÁRIAS

 

Gêneros literários 


Nas últimas postagens fizemos as seguintes definições:


 O que é Literatura   

As cinco funções da Literatura 

Gênero e tipo textual 


Agora abordaremos os gêneros literários e as escolas literárias. É bem importante não confundir esses três termos.


Gênero textual abrange todos os tipos de texto, menos os literários. Gênero literário é classificado de acordo com a sua forma, podendo ser dos gêneros épico ou narrativo, lírico e dramático. O conceito abrange apenas os textos literários. Por exemplo, uma receita culinária é um gênero textual, mas não é um gênero literário.


Texto é a maneira de o homem se expressar, não apenas de forma escrita. Tudo o que expressa um sentimento, uma ordem, uma ação é um texto, mesmo que ele não esteja escrito. Por exemplo, um filme, uma peça de teatro ou até mesmo um semáforo.

 

Isso mesmo, um semáforo. Quando a luz do semáforo está vermelha, o motorista para o carro (ou deveria parar). Quando a luz do farol fica verde, ele dá a partida. Perceba que houve comunicação, e se houve comunicação isso é um texto.


Aristóteles e os gêneros literários

 

Gêneros literários são categorias estabelecidas para todos os tipos de textos literários, de acordo com características formais comuns. Esses textos são agrupados segundo critérios estruturais, contextuais e semânticos. Foi Aristóteles quem definiu os três gêneros literários. São eles:

 

Gênero narrativo ou épico.

Gênero lírico.

Gênero dramático.

 

A classificação de gêneros literários sofreu algumas alterações ao longo dos anos. Hoje está mais flexível, sendo possível a mistura de gêneros e a subdivisão em vários subgêneros. Apesar da divisão em lírico, narrativo e dramático, há uma característica comum aos três gêneros: a Literatura.


Esses gêneros apresentam aspectos comuns que definem a Literatura como uma expressão artística que possui funções recreativas, sociais e críticas. Portanto, além da manifestação de sentimentos e da invenção de histórias por parte do autor, ocorre também a crítica social, política e histórica.

 

O texto literário transmite a noção artística do autor ao usar a função conotativa e poética da linguagem,

em prosa ou em verso. Ele também respeita estruturas no estilo e na forma, como a métrica e a rima.

 

Gênero épico narrativo

 

Definido como “gênero épico” por Aristóteles, incluía as epopeias, narrativas histórico-literárias de grandes acontecimentos. O poeta grego Homero (século IX ou VIII a.C.) foi o fundador da poesia épica a quem se atribui as obras-primas “Ilíada” e “Odisseia”. Outro grande exemplo de epopeia é a obra “Os Lusíadas” do escritor português Luís de Camões. No Brasil, merece destaque os poemas épicos “Caramuru”, de Santa Rita Durão (1722-1784), e “O Uruguai”, de Basílio da Gama (1741-1795), ambos escritores pertencentes ao Arcadismo no Brasil.

 

Com o passar do tempo essas narrações poéticas caíram em desuso e o termo épico deu lugar ao termo narrativo. É um gênero literário moderno em prosa, que tem como objetivo narrar uma história com acontecimentos reais ou imaginários. Para ser considerado narrativo, um texto precisa dos seguintes elementos:

 

Enredo – história que narra uma sucessão dos acontecimentos, com introdução, desenvolvimento e conclusão;

 

Narrador – aquele que narra a história. Utiliza discurso direto, indireto e/ou indireto livre.

 

Personagens – pessoas que estão presentes na história.

 

Tempo – o período em que acontece a história.

 

Espaço – local onde se passa a história.


 




Gênero lírico

 

Recebeu esse nome, pela referência à lira, instrumento musical que acompanhava a declamação de poesias na antiguidade. Inclui os textos poéticos de caráter sentimental que revelam as emoções do autor. É caracterizado pela função poética da linguagem e pelo uso de palavras no seu sentido conotativo com predominância da primeira pessoa.

 

São textos breves porque não apresentam enredo e sim a exteriorização do mundo interior do poeta (eu lírico). O eu Lírico, também chamado de "sujeito lírico" ou "eu poético", não se refere do autor do texto (pessoa real) por ser uma entidade fictícia (feminina ou masculina), uma criação do poeta, que faz o papel de narrador ou enunciador do poema. Em outros termos, o eu lírico representa a "voz da poesia".

 

Os poemas têm um caráter subjetivo e musicalidade. São sempre divididos em versos e estrofes. Versos são as linhas de texto; estrofes são conjuntos de versos. A escansão é uma divisão silábica dos versos que pode ser denominada como redondilha maior (com sete sílabas ou mais), e redondilha menor, com seis sílabas ou menos.




Gênero dramático

 

Desde a Antiguidade o gênero dramático, originário na Grécia, eram textos teatrais encenados essencialmente como culto aos deuses, os quais eram representados nas festas religiosas. Entre os principais autores do gênero dramático (tragédia e comédia) na Grécia antiga estão: Sófocles (496-406 a.C.), Eurípedes (480-406 a.C.) e Ésquilo (524-456 a.C.). A encenação dos textos de gênero dramático tinha o objetivo de despertar emoções na plateia, fenômeno chamado de catarse.

 

Sua principal característica é ser feito para ser encenado. Não existe um narrador que conta a ação, sendo o enredo apresentado por meio das falas das personagens, representadas por atores que vivenciam os acontecimentos. Por isso, diálogos e monólogos assumem uma importância crucial.

 

Os dramaturgos (autores desse tipo de texto) e os atores (que encenam o texto), são os emissores. Os receptores são o público que assiste à peça teatral. Além de serem constituídos de personagens (protagonistas, secundárias ou figurantes), são compostos pelo espaço cênico (palco teatral e cenários) e o tempo.

 

Os textos dramáticos estão subdivididos em atos – quando as ações ocorrem num mesmo espaço – e cenas – quando há mudança de local e personagens – e apresentam o nome da personagem que dialoga antes da sua fala, marcando assim a sua entrada em cena. Geralmente, os textos destinados ao teatro possuem a seguinte estrutura interna básica:

 

Apresentação – faz-se a exposição tanto das personagens quanto da ação a ser desenvolvida.

 

Conflito – o momento em que surge as peripécias da ação dramática.

 

Desenlace – momento de conclusão, encerramento ou desfecho da ação dramática.

 

Além da estrutura interna inerente ao texto dramático, tem-se a estrutura externa do gênero dramático, tal qual os atos (mudança dos cenários necessários para a representação) e cenas (entrada ou saída) das personagens. Observe que cada cena corresponde a uma unidade da ação dramática.

 

A estrutura do texto dramático, em verso ou em prosa, atua como facilitadora da dramatização pois fornece elementos auxiliadores da representação, como indicações do cenário, da música, da iluminação, do figurino e outras indicações cênicas, chamadas rubricas ou didascálias, que guiam o ator durante a peça de teatro.


 



Na antiga Grécia, as didascálias (do grego didaskália = instrução, ensinamento) eram as instruções que os poetas dramáticos davam aos atores para a representação cénica; por vezes, designavam as próprias representações teatrais ou festivais trágicos. Assim, um texto do gênero dramático apresenta esses dois tipos de conteúdo: o discurso direto das personagens e as indicações cênicas.

 

Escolas literárias

 

A Literatura é tradicionalmente dividida em Escolas Literárias. Essa divisão também pode ser conhecida como Movimentos Literários ou como Estilos de Época. Dessa forma, a matéria se torna mais didática para os alunos.

 

Essa sistematização tem como objetivo facilitar o estudo da disciplina, bem como seu ensino, uma vez que agrupa escritores de acordo com suas características estilísticas, temáticas entre outros aspectos, de acordo com o contexto histórico no qual estão inseridos. Seria impossível dissociar a Literatura da História: essas duas áreas do conhecimento humano caminham lado a lado, e é inquestionável a influência dos fatos históricos no fazer literário de cada época.

 



O quadro acima mostra todas as escolas literárias na Europa e no Brasil. Trataremos deste assunto na próxima postagem. Depois de definidos todos os tipos literários, começaremos então a viagem literária até os dias de hoje.





Links utilizados e sugeridos


Professor Noslen

https://www.youtube.com/watch?v=9T7-gOm0nGk&t=3s

5 Minutos sobre: Gêneros Literários – Litera Brasil

https://www.youtube.com/watch?v=cWp6WErNpgk&t=35s