Na postagem anterior falamos sobre Gêneros literários e as escolas literárias. Vamos dar início agora ao estudo do Trovadorismo na Europa.
O Trovadorismo e o mundo
dominado pelo teocentrismo e pelo feudalismo
O Trovadorismo foi um movimento literário caracterizado pela produção de cantigas líricas (sentimentos e emoções) e satíricas (críticas diretas ou indiretas), escritas pelos trovadores, daí o nome do movimento.
Ocorreu somente na Europa e teve como principal característica a aproximação da poesia e da música. Foi um dos gêneros literários mais populares da Idade Média, ao lado das novelas de cavalaria, relatos em prosa dos cavaleiros andantes.
Considerado o primeiro movimento literário europeu, reuniu registros
escritos da primeira época da Literatura medieval entre os séculos XI e XIV. As
poesias eram feitas para serem cantadas ao som de instrumentos musicais como
flauta, viola e alaúde. Por isso eram chamadas de cantigas.
Contexto histórico
A Idade Média foi um período histórico que durou de 476 a 1453. A sociedade medieval estava dividida entre clero, nobreza e povo. A Igreja Católica era detentora do poder político e econômico no Ocidente. Nessa época, predominou o teocentrismo, a ideia de que Deus é o centro de tudo.
O homem ocupava um lugar secundário e ficava à mercê dos valores cristãos.
A igreja católica medieval era a instituição social mais importante e a maior
representante da fé cristã. Era ela quem ditava os valores que influenciavam
diretamente o comportamento e o pensamento do homem.
A maioria da população era analfabeta, a escrita e a leitura estavam
restritas ao clero e a alguns nobres. Os livros eram muito caros, pois as obras
eram manuscritas e desenhadas por copistas. A maior parte da arte produzida
nesse período era de cunho religioso.
Desenvolvimento do Trovadorismo
O Trovadorismo desenvolveu-se durante o período medieval, principalmente a
partir do século XII. À época, não existiam ainda os Estados nacionais e
o feudalismo era o sistema econômico, político e social
vigente. A Europa encontrava-se dividida em feudos, grandes propriedades
controladas pelos seus proprietários. A sociedade era rural e autossuficiente,
mas o camponês vivia na miséria.
Existia uma relação de suserania e vassalagem. O suserano, senhor do feudo, precursor da nobreza europeia, oferecia proteção aos seus vassalos que, em troca, cultivavam, fiavam e forjavam as armas.
Trovadores e cancioneiros
O trovador era o autor das cantigas, o jogral as
declamava e o menestrel, além de recitar também tocava os
instrumentos. O menestrel era considerado superior ao jogral por ter mais
instrução e habilidade artística, pois sabia tocar e cantar. Os trovadores
viajavam entoando suas cantigas.
Todos os manuscritos das cantigas trovadorescas encontrados estão reunidos
em cancioneiros, coletâneas de textos medievais preservados em Portugal. Embora
o Trovadorismo tenha surgido na região da Provença (sul da França), ele se
espalhou por outros países da Europa, pois os trovadores provençais eram
considerados os melhores da época.
Surgimento de novas línguas
Com o declínio do Império Romano, a partir dos séculos IV e V, o latim
vulgar, língua oficial de Roma, passou a sofrer modificações entre os povos
dominados. Foi nesse longo período da Idade Média que começaram a surgir as
línguas neolatinas, como o português, o espanhol, o francês, o italiano, o
romeno e o catalão. No entanto, foi apenas no século XIV que o português surgiu
como língua oficial; as cantigas dos trovadores foram escritas
no dialeto provençal.
A língua galego-portuguesa foi estabelecida como oficial do reino por Dom
Dinis I, no final do século XIII. E ele mesmo era um rei-trovador. O desejo
do monarca poeta era que Portugal se constituísse como nação de fato,
incentivando a identidade cultural e o Trovadorismo. O movimento teve extrema
importância no desenvolvimento do idioma e da cultura portuguesa.
O Trovadorismo em Portugal (1189 ou 1198 – 1418)
Portugal tornou-se um país independente ao se separar do reino
de Leão e Castela, em 1140. O galego-português era
o idioma falado. Com o novo Estado, surgiu também a Literatura
portuguesa.
O Trovadorismo português teve seu apogeu nos séculos XII e XIII, entrando
em declínio no século XIV. O ano de 1189 (ou 1198) é considerado o marco
inicial da Literatura portuguesa e do movimento do Trovadorismo.
Essa é a data provável da primeira composição literária conhecida, a Cantiga
da Ribeirinha ou Cantiga de Guarvaia, escrita pelo
trovador Paio Soares da Taveirós, em 1189 ou 1198, e dedicada a
dona Maria Pais Ribeiro, a favorita do rei Sancho
I, que viveu entre os anos de 1154 e 1211. Escrita em galego-português, ela
é o registro mais antigo que se tem da produção literária nas terras
portuguesas.
A Península Ibérica foi o centro irradiador do
Trovadorismo, na região que compreende o norte de Portugal e a Galícia, região
localizada no norte da Espanha. A Catedral de Santiago de Compostela,
centro de peregrinação religiosa, atraía multidões desde o século XI. Ali, as cantigas
trovadorescas eram cantadas em galego-português, língua falada na região.
A Literatura portuguesa do século XII não possuía ainda uma noção de
identidade nacional plenamente instituída. O território fazia parte do Condado
Portucalense e do Condado da Galícia, terras dadas como
presente de casamento a soldados cruzados que desposaram duas moças nobres.
D. Afonso Henriques transformou os dois condados em um reinado, mas ele
mesmo só foi reconhecido como monarca ao reconquistar essas terras resguardado
pelo poder e força da cristandade.
A identidade dos trovadores, portanto, não era portuguesa, mas ibérica e
hispânica. A origem desses compositores era Leão, Galícia, o reino português,
Castela etc. O Trovadorismo teve seu declínio no século XIV, quando começou
outro movimento da segunda época medieval portuguesa: o humanismo.
Na próxima postagem,
falaremos das características do Trovadorismo e também sobre os autores mais importantes.