sexta-feira, 29 de abril de 2022

HUMANISMO NA LITERATURA – RACIONALISMO E VALORIZAÇÃO DO HOMEM

 




O Humanismo na Literatura

 

Na postagem anterior falamos sobre Humanismo e Renascimento. Agora trataremos exclusivamente do Humanismo como escola literária que teve o racionalismo e a valorização do homem como duas de suas características.

 

O Humanismo foi um movimento literário de transição entre o Trovadorismo e o Classicismo que marcou o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna na Europa.  Ele trouxe transformações ideológicas, sociais, culturais e psicológicas.

 

Aos poucos, foi possível consolidar a importância da ciência para a sociedade e distinguir os dogmas religiosos da razão humana para fortalecer o Antropocentrismo em detrimento do Teocentrismo. Francesco Petrarca, poeta italiano, é considerado o pai do Humanismo por contribuir na criação dos sonetos reunindo cerca de 300 em sua obra.

 

A linguagem do humanismo é racional, histórica, política e teatral. Está baseada, sobretudo, na valorização do ser humano e no universo psicológico das personagens. A poesia palaciana, as crônicas históricas e os textos teatrais foram os temas mais utilizados pelos escritores humanistas.




Contexto histórico do Humanismo

 

A hegemonia da Igreja foi quebrada e isso influenciou diretamente o modo de expressão da sociedade ascendente desse período, bem como sua relação com a espiritualidade. O fim do Feudalismo causou a migração do campo para as zonas urbanas.

 

Surgiram as primeiras cidades (burgos) e, consequentemente, uma nova classe social, a burguesia. Os burgueses passaram a competir com a nobreza pelo poder econômico e social.

 

A expansão marítima, a invenção da bússola, a teoria heliocêntrica provada por Galileu, deu ao homem uma postura mais cientificista e racionalista. O comércio se expandiu e foram criadas pequenas indústrias.

 

Essa nova organização social, porém, trouxe consequências porque o povo, acostumado à servidão, não tinha nem estudo nem qualificação profissional para atender às exigências comerciais que se consolidavam.

 

Foi um período de muita fome e doenças. A epidemia da peste bubônica, conhecida como Peste Negra, por exemplo, dizimou um terço da população da Europa.

 

A mudança do poder descentralizado em cada feudo pelo seu nobre responsável durante o Feudalismo, levou ao Absolutismo, poder centralizado nas mãos do rei.


Características do Humanismo

 

Transição entre Idade Média, Renascimento e Classicismo – no final da Idade Média a estrutura feudal, desgastada, começou a dar lugar a uma nova ordem social, econômica, política e cultural. Todas essas transformações trouxeram mudanças no modo de pensar de muitas pessoas, principalmente as mais ricas que residiam nas grandes cidades. Nesse contexto desenvolveram-se movimentos de caráter intelectual, científico e artístico, tais como o Humanismo, o Renascimento e o Classicismo.

 

Antropocentrismo – conceito filosófico que ressalta a importância do homem como um ser agente dotado de inteligência e de capacidade crítica. Ao contrário do Teocentrismo (Deus como centro do mundo), esse conceito permitiu descentralizar o conhecimento que antes era propriedade da Igreja.




Racionalismo – vertente da teoria do conhecimento moderna que defende a natureza inata das ideias e que todo o conhecimento verdadeiro advém da racionalidade. Ou seja, é possível chegar à verdade apenas pelo exercício da nossa razão, antes mesmo da experiência sensorial. Um exemplo disso seria a matemática, onde não precisamos confiar em nossos sentidos para estabelecer que 2 + 2 = 4.

 

Surgimento da burguesia – grupo de pessoas dedicadas ao comércio durante a Idade Média. O termo burguesia deriva de “burgos”, como eram chamadas as pequenas cidades que surgiram com o renascimento da atividade comercial na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, entre os séculos XIV e XV.

 

Cientificismo – concepção filosófica de origem positivista que afirma a superioridade da ciência sobre todas as outras formas de compreensão humana da realidade (religião, filosofia metafísica etc.), por ser a única capaz de apresentar benefícios práticos e alcançar autêntico rigor cognitivo.

 

Antiguidade clássica – longo período da história da Europa que se estende aproximadamente do século VIII a.C., com o surgimento da poesia grega de Homero, à queda do Império romano do ocidente no século V d.C., mais precisamente no ano 476. Os artistas humanistas foram inspirados pelos estudos realizados anteriormente por pensadores clássicos gregos e romanos, sobretudo pela Literatura e mitologia greco-romana.

 

Valorização do homem – valorizar o homem acima de tudo, contemplando os atributos e realizações humanas. Com o distanciamento das questões religiosas, nesse período foi possível realizar novas formas de estudo acerca da arte, da ciência e da política. Inspirado nos modelos clássicos greco-romanos, houve a valorização do corpo e das emoções humanas.

 

Ideal de beleza e perfeição: aliado ao conceito de valorização dos modelos clássicos. Nesse período, buscou-se atingir a perfeição das formas humanas por meio das proporções equilibradas e da beleza perfeita.

 

Categorias literárias criadas por autores do Humanismo

 

Poesia palaciana

A poesia palaciana era considerada a essência que orientava a linguagem do Humanismo. Feita por nobres para nobres e fidalgos portugueses, falava do amor de forma sensual e sem tanta idealização da mulher. Eram poesias musicais, porém não eram cantadas como na época do Trovadorismo.




Os principais temas utilizados pela poesia palaciana eram os costumes da corte, temas religiosos, satíricos, líricos e heroicos. O poeta português Garcia Resende (1482-1536), reunia a poesia palaciana no Cancioneiro Geral (1516). O cancioneiro reunia cerca de 900 produções poéticas da época.

 

Os principais escritores no Cancioneiro Geral foram Garcia de Resende, João Ruiz de Castelo Branco, Nuno Pereira, Fernão da Silveira, Conde Vimioso, Aires Teles, Diogo Brandão e Gil Vicente.

 

Diferenças entre a Poesia Palaciana e a Poesia Trovadoresca

 

No Trovadorismo, a poesia estava intimamente ligada à música, daí o nome “cantigas”. As principais produções poéticas dessa época foram as Cantigas líricas (amor e amigo) e as Cantigas satíricas (escárnio e maldizer). Eram textos poéticos recitados e acompanhados por música e danças.

 

Durante o Humanismo, o texto poético se separou da música e adquiriu sua independência. As principais composições poéticas criadas no período foram: 


Vilancete – antiga composição poética de caráter campesino, constituída por um terceto glosado em duas ou mais oitavas, cujo verso final repete integral ou parcialmente um dos versos do terceto.

Esparsa – antiga composição poética, composta em versos de seis sílabas. Pequena composição lírica.

Cantiga – poema curto, próprio para ser cantado pelos trovadores, de tema leve e de grande aceitação popular.

Trova – composição popular poética vulgar e ligeira.




 Crônica histórica ou Prosa historiográfica

 

É um tipo de crônica histórica que teve início na Idade Média (Trovadorismo) e atingiu seu apogeu com o movimento humanista, sobretudo com as obras do escritor português Fernão Lopes. Os autores relatavam a vida da monarquia a partir de documentos históricos, necessitando de objetividade para se relacionar com a razão.

 

Novela de cavalaria


Também chamada de Romance de cavalaria, gênero literário que vigorou na Idade Média, durante o Trovadorismo e o Humanismo. São narrativas derivadas de poemas épicos e das canções de gesta. Por serem longas, passaram a ser escritas em prosa.


Surgiram provavelmente na França e na Inglaterra durante os séculos X e XV e estão reunidas no conjunto da prosa medieval. Além de Inglaterra e França elas tiveram forte presença e foram popularizadas em Portugal, Espanha e Itália.




Eram divididas em capítulos e sua principal característica são os relatos das aventuras fantásticas dos destemidos, leais e honrados cavaleiros errantes medievais que enfrentavam diversas batalhas sem deixar de lado o amor por suas belas donzelas.

 

A principal missão desses cavaleiros era estabelecer a justiça no mundo e adquirir a glória. Enfrentavam diversos monstros, lutavam em batalhas, prendiam reis injustos durante o percurso que faziam. No entanto, a história geralmente terminava de forma trágica.


Textos teatrais

 

Eram divididos em autos (peças curtas e bíblicas) farsas (peças que retratavam o dia a dia da sociedade de forma cômica). Teatro vicentino era o nome dado aos textos teatrais produzidos pelo dramaturgo português Gil Vicente durante o Humanismo (1434-1527). Teve início em 1502, quando ele apresentou sua peça O Monólogo do vaqueiro, também chamada de Auto da visitação.




O Humanismo em Portugal

 

O Humanismo em Portugal aconteceu de 1434 a 1527 e teve como marco inicial a nomeação de Fernão Lopes como cronista-mor da Torre do Tombo, em 1418. O marco da transição para o Renascimento foi o retorno do poeta Sá de Miranda da Itália com as novidades renascentistas.

 

Gil Vicente desenvolveu o teatro popular e se destacou com as produções em prosa (crônicas históricas e o teatro) e poética (poesia palaciana) durantes os séculos XV e XVI. Prosa e teatro juntos revelam as transformações de Portugal na política, na economia e na sociedade.

 



Humanismo na Literatura




 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


sexta-feira, 15 de abril de 2022

HUMANISMO E RENASCIMENTO – NOVA VISÃO DO MUNDO SEM OS DOGMAS DA IGREJA

 







Substituição no velho continente: sai a Igreja, entra o homem


O Humanismo é um movimento social, econômico e cultural que modificou diversos padrões da Idade Média. Nele, o Teocentrismo deu lugar ao Antropocentrismo, ou seja, o ser humano e a condição humana passaram a dominar o pensamento europeu, distanciando-se da Igreja.

 

Nas ciências, o pensamento humanista derrotou os dogmas e preceitos da Igreja e trouxe relevante progresso em áreas como física, matemática, engenharia e medicina. O movimento foi tão intenso que a ciência começou a ser desenvolvida para sustentar as hipóteses antropocentristas, assim como as Artes e a Literatura. O domínio religioso começou a se enfraquecer e, com isso, fortaleceu o foco no ser humano.

 

Antropocentrismo X Teocentrismo, o principal conflito ao final da Idade Média


Antropocentrismo vem do grego anthropos (humano) e kentron (centro), assim como Teocentrismo theos (Deus) e kentron (centro). A visão antropocêntrica defende que o mundo, assim como tudo que nele existe, é para benefício maior dos seres humanos. Sua doutrina liberta o homem da figura divina, por muitos séculos predominante em quase todo o mundo. No Antropocentrismo – uma "ciência do homem" – os seres humanos são responsáveis por todas as suas ações, sejam elas culturais, sociais, filosóficas ou históricas.

 

O Heliocentrismo de Copérnico e o Humanismo são os principais marcos do Antropocentrismo. Nicolau Copérnico (1473 - 1543) afirmava que a Terra girava ao redor do Sol e não o contrário, como se pensava na Idade Média. A teoria de Copérnico era uma oposição total ao geocentrismo defendido pela Igreja Católica naquele período.

 

O processo de transição do Teocentrismo para o Antropocentrismo teve início entre os séculos XV e XVI, com o surgimento do Humanismo renascentista e de outros movimentos liderados por filósofos, estudiosos e artistas. Essa transição ocasionou várias mudanças sociais, como a substituição do modelo feudalista pelo capitalismo mercantil, o início das grandes navegações e a passagem da Idade Média para a Idade Moderna.




O Humanismo nas artes


Os intelectuais e artistas do Humanismo trabalhavam temas que tinham relação com a figura humana, inspirados pelos clássicos da Antiguidade greco-romana como modelos de verdade, beleza e perfeição. As esculturas e pinturas apresentavam altíssimos graus de detalhes nas expressões faciais e nas proporções humanas. Esse período foi marcado pelo desenvolvimento de diversas técnicas artísticas. Nas artes plásticas e na medicina, o Humanismo foi representado em obras e estudos sobre anatomia e funcionamento do corpo humano.


Com o Renascimento, poucas pessoas queriam ter obras que representassem a força e o poder da igreja e da monarquia. O pressuposto básico dos artistas era a utilização da arte como veículo de crítica social, evidenciando temas comuns entre a população. Como consequência, as obras literárias e as grandes pinturas e esculturas apresentavam traços renascentistas e demarcavam os ideais humanistas.


Humanismo Secular


O Humanismo Secular, também conhecido como Humanismo Laico, é uma corrente filosófica que aborda a justiça social, a razão humana e a ética. Seguidores do Naturalismo, os humanistas seculares são normalmente ateus ou agnósticos, renegando a doutrina religiosa, a pseudociência, a superstição e o conceito de sobrenatural. Para eles, essas áreas não são vistas como alicerce da moralidade e da tomada de decisões.


Os humanistas seculares possuem como base a razão, a ciência, a aprendizagem por meio de relatos históricos e da experiência pessoal, suportes éticos e morais que dão sentido à vida.


Humanismo e Renascimento


O contexto histórico do Humanismo se confunde com o do Renascimento, tendo em vista que foi o pensamento humanista que estabeleceu os fundamentos ideológicos que serviram de base para o movimento renascentista.


Entre os séculos XIV e XVII, o humanismo determinou uma nova postura em relação às doutrinas religiosas em vigor na época, propondo um afastamento das mesmas e uma interpretação mais racional e antropocêntrica do mundo.




Durante o Renascimento, o pensamento humanista também foi caracterizado por tentativas de libertar o ser humano das regras rígidas do cristianismo da era medieval. Em sentido amplo, o Humanismo nesta época serviu como uma luta contra a obscuridade medieval e levou à criação de um comportamento científico livre de normas teológicas.

 

O Renascimento e sua capacidade de mudar o mundo


Não há como falar de Humanismo sem falar de Renascimento (ou Renascença), movimento de reforma artística, literária e científica que teve origem na Itália, no século XIV e se espalhou pela Europa até o século XVI.


Para alguns autores o Renascimento foi um movimento que rompeu com a "escuridão cultural e intelectual” da Idade Média. Outros acreditam que foi um movimento de separação de muitas filosofias da época medieval, em oposição àqueles que afirmam que foi um movimento de continuidade e que por isso está inevitavelmente relacionado com a Idade Média.


Os artistas da época valorizavam a cultura greco-romana. Eles consideravam que os gregos e romanos possuíam uma visão completa e humana da natureza, diferente dos homens medievais. E por conta disso, as qualidades mais valorizadas no ser humano na época eram a inteligência, o conhecimento e os dons artísticos.




O Renascimento abriu caminho para o desenvolvimento de vários estilos artísticos e correntes filosóficas. Alguns se desenvolveram em concordância com os valores renascentistas, enquanto outros se definiram pelo distanciamento, como o Barroco, caracterizado pelo exagero de enfeites e grandiosidade, em oposição à simplicidade do Renascimento.


Renascimento cultural


Para a arte, o Renascimento significou a criação de novos gêneros de pintura e escultura, para dar resposta ao novo gosto da sociedade da época. As primeiras manifestações no âmbito artístico surgiram em Florença, na Itália. Foram construídas várias obras arquitetônicas que permanecem até hoje. Na pintura, Giotto foi um dos primeiros a seguir essa corrente.


Os nomes mais importantes foram Leonardo da Vinci, Michelangelo, Donatello e Rafaello, com várias obras de arte mundialmente conhecidas.

 

Renascimento na Literatura


A filosofia e a Literatura durante o Renascimento foram fortemente marcadas por vertentes humanistas, que colocaram o homem em destaque em todas as áreas.


Algumas figuras literárias mais conhecidas durante o Renascimento foram Miguel de Cervantes (castelhano que fez a ligação entre o Renascimento e o Barroco), François Rabelais (França) e Luís de Camões (Portugal).


Renascimento científico


O renascimento também foi marcado por importantes descobertas científicas, sobretudo nas áreas da astronomia, da física, da medicina, da matemática e da geografia. Uma das descobertas da época foi feita pelo polonês Nicolau Copérnico (1473 – 1543) ao contestar a teoria geocêntrica de que a terra não é o centro do universo, mas que simplesmente é um planeta que gira em torno do sol.




Galileu Galilei também se destacou como um importante cientista da época, ao descobrir os anéis de Saturno, as manchas solares e os satélites de Júpiter, porém foi perseguido e ameaçado pela Igreja, sendo obrigado a negar publicamente suas descobertas.


Na medicina, os conhecimentos avançaram com trabalhos e experimentos acerca da circulação sanguínea, dos processos de cauterização e os avanços na anatomia.


Renascimento comercial e urbano


O Renascimento comercial e urbano ocorreu na Idade Média, sobretudo em algumas cidades da Itália e consistiu em um conjunto de fatores que criou novos modelos de pensar e de comercializar produtos. A venda desses artigos também foi responsável pelo desenvolvimento de centros urbanos que muitas vezes organizavam as feiras comerciais.


Naquela época, quando soldados regressavam de expedições, frequentemente vendiam os despojos de guerra. Assim, surgiram mercadores e uma nova classe social: a burguesia.


Esses ricos comerciantes, conhecidos como mecenas, passaram a investir nas artes, o que aumentou assim o desenvolvimento artístico e cultural da região. Por esta razão, a Itália é conhecida como o berço do renascentismo.


Na próxima postagem trataremos exclusivamente do Humanismo como Escola literária.



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segunda-feira, 4 de abril de 2022

TROVADORISMO – CANTIGAS LÍRICA, SATÍRICA E OS SEUS PRINCIPAIS AUTORES

 




Contexto histórico do Trovadorismo


Na postagem anterior destacamos o Trovadorismo e o seu contexto histórico, dominado pelo teocentrismo e pelo feudalismo. Falamos também sobre o Trovadorismo em Portugal. Vamos agora tratar das cantigas trovadorescas e seus autores mais importantes.


A requintada população da Provença caracterizava-se pelos ideais de vida burguesa, procurando viver de modo mais ameno possível, sem mesmo se notar uma diferença marcante entre o fidalgo e o burguês. Para tanto, contribuíam a divisão racional da propriedade e o afrouxamento dos laços de dependência feudal, o que propiciava o aparecimento de forte individualismo, significando isso, na Idade Média, um choque com os princípios da Igreja, pois representava uma concepção de vida oposta às doutrinas ortodoxas. Ademais, vale ajuntar que o clero, no Sul, não possuía a mesma força dos religiosos do Norte, pois estava submetido aos senhores feudais. Audemaro Taranto Goulart e Oscar Vieira da Silva.

 

Cantigas trovadorescas

 

Cantiga trovadoresca é a denominação concedida aos textos poéticos da primeira época medieval e que fizeram parte do movimento literário do Trovadorismo. Em geral, eram músicas cantadas em coro e, por isso, receberam o nome de cantigas.

 

A poesia trovadoresca possui uma tendência lírico-amorosa e outra satírica. Na primeira, predominam os temas do sofrimento amoroso e da saudade. Na segunda, são feitas críticas a pessoas ou costumes, algo bastante ousado em uma época de repressão ao livre pensamento.

 

Cantigas líricas

 

Vimos na postagem Gêneros literários e escolas literárias que o termo lírico recebeu esse nome, pela referência à lira, instrumento musical que acompanhava a declamação de poesias na antiguidade. Inclui os textos poéticos de caráter sentimental que revelam as emoções do autor. É caracterizado pela função poética da linguagem e pelo uso de palavras no seu sentido conotativo (sentido dado a uma palavra em função de seu contexto, que não corresponde ao seu significado literal) com predominância da primeira pessoa do singular (eu).

 

São textos breves porque não apresentam enredo e sim a exteriorização do mundo interior do poeta, o eu lírico, também chamado de sujeito lírico ou eu poético, não se refere ao autor do texto (pessoa real) por ser uma entidade fictícia (feminina ou masculina). É uma criação do poeta, que faz o papel de narrador ou enunciador do poema. O eu lírico representa a "voz da poesia".

 

As cantigas líricas possuem dois ramos, as cantigas de amor, cujo tema é o sofrimento amoroso, e as cantigas de amigo, que cantam a saudade do ser amado. Vamos a elas!

 

Cantigas de amor

 

São escritas na primeira pessoa do singular (eu). Nelas, o eu poético, ou seja, o sujeito fictício que dá voz à poesia, declara seu amor a uma dama, tendo como pano de fundo o formalismo do ambiente palaciano. A confissão amorosa é direta e o trovador comumente se dirige a ela, chamando-a de “mia senhor” ou “mia senhor fremosa” (minha senhora ou minha formosa senhora). O apaixonado, geralmente acometido pela coita, a dor amorosa diante da indiferença da amada, é servo e vassalo de sua adorada e expressa seu amor com insistência e intensidade.

 


 

As cantigas de amor surgiram entre os séculos XI e XIII, influenciadas pela arte desenvolvida na região da Provença, no sul da França. A influência do lirismo provençal foi intensificada com a chegada de colonos franceses na Península Ibérica e que foram lutaram contra os mouros (árabes) ligados à Provença. Destaca-se também o intenso comércio entre a França e a região ocidental da Península Ibérica, alcançando o Atlântico Norte.

 

Nesse contexto, surge o "amor cortês", baseado num amor impossível, onde os homens sofrem de amor por desejarem mulheres da corte, geralmente casadas com nobres. Essa concepção é mais intensa na voz dos trovadores de Portugal e da Galiza (comunidade autônoma espanhola situada no noroeste da península Ibérica, onde antigamente se situou a Galécia e o Reino da Galiza). Esses trovadores não se limitam a imitar, mas a "sofrer de maneira mais dolorida".

 

Como, você pode estar se perguntando, o trovador assumia essa posição de submissão diante da mulher se na Idade Média, a mulher ainda ocupava um lugar inferior na escala social? A resposta é dada pelos estudiosos da Literatura Audemaro Taranto Goulart e Oscar Viera da Silva:

 

No Sul da França (Provença), entretanto, a situação da mulher era diferente (da situação da mulher do Norte da França): a lei lhe conferia igualdade jurídica com o homem, evidenciada no fato de ela herdar, possuir bens, e poder, depois de casada, dispor deles sem que fosse necessário o consentimento do marido. Como se vê, a nova civilização possuía um ideal feminista, que vai ser representado nas Cantigas de Amor pela sujeição amorosa do homem, pela submissão imposta pelo desejo e imposição femininos.

  

Cantigas de amigo

 

São escritas na primeira pessoa do singular (eu) e, geralmente, são apresentadas em forma de diálogo. O trabalho formal é mais apurado em relação às cantigas de amor. Originam-se do sentimento popular e na própria Península Ibérica.

 


Nelas, o eu poético é feminino, mas seus autores são homens. É a dama quem expõe seus sentimentos, sempre de maneira discreta porque, no contexto provençal, o valor mais importante de uma mulher é a discrição. A donzela dirige-se por vezes à sua mãe, a uma irmã ou amiga, ou ainda a um pastor ou alguém que encontre pelo caminho.

 

Essa é a principal característica que as diferencia das cantigas de amor, onde o eu lírico é masculino. O ambiente descrito nas cantigas de amigo é a zona rural e não mais a corte. Os ambientes envolvem mulheres camponesas, característica que reflete a relação dos nobres com as plebeias. Esta é, sem dúvida, uma das principais marcas do patriarcalismo da sociedade portuguesa.




 Cantigas satíricas 

 

Apresentam, em geral, uma crítica indireta e irônica. Costumam ironizar ou difamar determinada pessoa. Demonstram também a ousadia do trovador ao criticar a sociedade da época, em que o livre pensamento era combatido pela Igreja. São dois os tipos de cantigas satíricas: as de escárnio e as de maldizer.

 

Cantigas de escárnio

 

São mais irônicas e trabalham sobretudo com trocadilhos e palavras de duplo sentido, sem mencionar diretamente nomes. São críticas indiretas: é um “mal dizer” de maneira encoberta, insinuada.




Cantigas de maldizer

 

São aquelas em que os trovadores apontam direta e nominalmente o alvo de suas sátiras, de forma propositalmente ofensiva e fazendo uso de termos de baixo calão, como palavrões, pois o intuito é mesmo agredir alguém verbalmente.




Principais autores do trovadorismo

 

Portugal


rei D. Dinis (1261-1325) foi um grande incentivador que prestigiou a produção poética em sua corte. Foi ele próprio um dos mais talentosos trovadores medievais com uma produção de 140 cantigas líricas e satíricas.

 

Paio Soares Taveirós – foi um trovador da primeira metade do século XIII. Vinha de origem nobre, é autor da Cantiga de Amor A Ribeirinha que é considerada a primeira obra em língua galaico – portuguesa.

 

João Soares PaivaJoão Garcia de Guilhade , Fernão Rodrigues de Calheiros , Pero Gonçalves Portocarreiro.

 

Espanha

D. Afonso X – considerado o grande renovador da cultura peninsular na segunda metade do século XIII. O mesmo escreveu um grande número de composições em galaico-português que ficaram conhecidas como Cantigas de Santa Maria.


Martim Codax, Nuno Fernandes Torneol, Paio Gomes Charinho.


França

Arnaut Daniel, Bernart de VentadornGuilhem de Peitieu e Raimbaut d’Aurenga.

 

O assunto da próxima postagem será o Humanismo.




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