O Humanismo na Literatura
Na postagem anterior
falamos sobre Humanismo e Renascimento. Agora trataremos exclusivamente do
Humanismo como escola literária que teve o racionalismo e a valorização do
homem como duas de suas características.
O Humanismo foi um
movimento literário de transição entre o Trovadorismo e o Classicismo que
marcou o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna na
Europa. Ele trouxe transformações ideológicas, sociais, culturais e
psicológicas.
Aos poucos, foi possível
consolidar a importância da ciência para a sociedade e distinguir os dogmas
religiosos da razão humana para fortalecer o Antropocentrismo em detrimento do
Teocentrismo. Francesco Petrarca, poeta italiano, é considerado o
pai do Humanismo por contribuir na criação dos sonetos reunindo cerca de 300 em
sua obra.
A linguagem do humanismo é
racional, histórica, política e teatral. Está baseada, sobretudo, na
valorização do ser humano e no universo psicológico das personagens. A poesia
palaciana, as crônicas históricas e os textos
teatrais foram os temas mais utilizados pelos escritores humanistas.
Contexto histórico do Humanismo
A hegemonia da Igreja foi
quebrada e isso influenciou diretamente o modo de expressão da sociedade
ascendente desse período, bem como sua relação com a espiritualidade. O fim do
Feudalismo causou a migração do campo para as zonas urbanas.
Surgiram as primeiras
cidades (burgos) e, consequentemente, uma nova classe social, a burguesia.
Os burgueses passaram a competir com a nobreza pelo poder econômico e social.
A expansão marítima, a invenção
da bússola, a teoria heliocêntrica provada por Galileu, deu ao homem uma
postura mais cientificista e racionalista. O comércio se expandiu e foram
criadas pequenas indústrias.
Essa nova organização
social, porém, trouxe consequências porque o povo, acostumado à servidão, não
tinha nem estudo nem qualificação profissional para atender às exigências
comerciais que se consolidavam.
Foi um período de muita
fome e doenças. A epidemia da peste bubônica, conhecida como Peste
Negra, por exemplo, dizimou um terço da população da Europa.
A mudança do poder descentralizado em cada feudo pelo seu nobre responsável durante o Feudalismo, levou ao Absolutismo, poder centralizado nas mãos do rei.
Características do
Humanismo
Transição entre Idade
Média, Renascimento e Classicismo – no final da Idade Média a estrutura feudal, desgastada, começou
a dar lugar a uma nova ordem social, econômica, política e cultural. Todas
essas transformações trouxeram mudanças no modo de pensar de muitas pessoas,
principalmente as mais ricas que residiam nas grandes cidades. Nesse contexto
desenvolveram-se movimentos de caráter intelectual, científico e artístico,
tais como o Humanismo, o Renascimento e o Classicismo.
Antropocentrismo – conceito filosófico que ressalta a
importância do homem como um ser agente dotado de inteligência e de capacidade
crítica. Ao contrário do Teocentrismo (Deus como centro do mundo), esse
conceito permitiu descentralizar o conhecimento que antes era propriedade da
Igreja.
Racionalismo – vertente da teoria do conhecimento
moderna que defende a natureza inata das ideias e que todo o conhecimento
verdadeiro advém da racionalidade. Ou seja, é possível chegar à verdade apenas
pelo exercício da nossa razão, antes mesmo da experiência sensorial. Um exemplo
disso seria a matemática, onde não precisamos confiar em nossos sentidos para
estabelecer que 2 + 2 = 4.
Surgimento da burguesia – grupo de pessoas dedicadas ao comércio
durante a Idade Média. O termo burguesia deriva de “burgos”, como eram chamadas
as pequenas cidades que surgiram com o renascimento da atividade comercial na
passagem da Idade Média para a Idade Moderna, entre os séculos XIV e XV.
Cientificismo – concepção filosófica de origem
positivista que afirma a superioridade da ciência sobre todas as outras formas
de compreensão humana da realidade (religião, filosofia metafísica etc.), por
ser a única capaz de apresentar benefícios práticos e alcançar autêntico rigor
cognitivo.
Antiguidade clássica – longo período da história da
Europa que se estende aproximadamente do século VIII a.C., com o surgimento da
poesia grega de Homero, à queda do Império romano do ocidente no século V d.C.,
mais precisamente no ano 476. Os artistas humanistas foram inspirados pelos
estudos realizados anteriormente por pensadores clássicos gregos e romanos,
sobretudo pela Literatura e mitologia greco-romana.
Valorização do
homem – valorizar
o homem acima de tudo, contemplando os atributos e realizações humanas. Com o
distanciamento das questões religiosas, nesse período foi possível realizar
novas formas de estudo acerca da arte, da ciência e da política. Inspirado nos
modelos clássicos greco-romanos, houve a valorização do corpo e das emoções
humanas.
Ideal de beleza e
perfeição: aliado ao
conceito de valorização dos modelos clássicos. Nesse período, buscou-se atingir
a perfeição das formas humanas por meio das proporções equilibradas e da beleza
perfeita.
Categorias literárias
criadas por autores do Humanismo
Poesia palaciana
A poesia palaciana era
considerada a essência que orientava a linguagem do Humanismo. Feita por nobres
para nobres e fidalgos portugueses, falava do amor de forma sensual e sem tanta
idealização da mulher. Eram poesias musicais, porém não eram cantadas como na época
do Trovadorismo.
Os principais escritores
no Cancioneiro Geral foram Garcia de Resende, João Ruiz de Castelo Branco, Nuno
Pereira, Fernão da Silveira, Conde Vimioso, Aires Teles, Diogo Brandão e Gil
Vicente.
Diferenças entre a
Poesia Palaciana e a Poesia Trovadoresca
No Trovadorismo, a poesia
estava intimamente ligada à música, daí o nome “cantigas”. As principais
produções poéticas dessa época foram as Cantigas líricas (amor
e amigo) e as Cantigas satíricas (escárnio e maldizer). Eram
textos poéticos recitados e acompanhados por música e danças.
Durante o Humanismo, o texto poético se separou da música e adquiriu sua independência. As principais composições poéticas criadas no período foram:
Vilancete – antiga composição poética de caráter campesino,
constituída por um terceto glosado em
duas ou mais oitavas, cujo verso
final repete integral ou parcialmente um dos versos do terceto.
Esparsa – antiga composição poética, composta em versos de
seis sílabas. Pequena composição lírica.
Cantiga – poema curto, próprio para ser cantado pelos
trovadores, de tema leve e de grande aceitação popular.
Trova – composição popular poética vulgar e ligeira.
É um tipo de crônica
histórica que teve início na Idade Média (Trovadorismo) e atingiu seu apogeu
com o movimento humanista, sobretudo com as obras do escritor português Fernão
Lopes. Os autores relatavam a vida da monarquia a partir de documentos
históricos, necessitando de objetividade para se relacionar com a razão.
Novela de cavalaria
Também chamada de Romance de cavalaria, gênero literário que vigorou na Idade Média, durante o Trovadorismo e o Humanismo. São narrativas derivadas de poemas épicos e das canções de gesta. Por serem longas, passaram a ser escritas em prosa.
A principal missão desses
cavaleiros era estabelecer a justiça no mundo e adquirir a glória. Enfrentavam
diversos monstros, lutavam em batalhas, prendiam reis injustos durante o
percurso que faziam. No entanto, a história geralmente terminava de forma
trágica.
Textos teatrais
Eram divididos em autos (peças
curtas e bíblicas) e farsas (peças que retratavam
o dia a dia da sociedade de forma cômica). Teatro vicentino era
o nome dado aos textos teatrais produzidos pelo dramaturgo português Gil
Vicente durante o Humanismo (1434-1527). Teve início em 1502, quando
ele apresentou sua peça O Monólogo do vaqueiro, também chamada
de Auto da visitação.
O Humanismo em Portugal
O Humanismo em Portugal
aconteceu de 1434 a 1527 e teve como marco inicial a nomeação de Fernão
Lopes como cronista-mor da Torre do Tombo, em 1418. O marco da
transição para o Renascimento foi o retorno do poeta Sá de Miranda da
Itália com as novidades renascentistas.
Gil Vicente desenvolveu o teatro popular e se
destacou com as produções em prosa (crônicas históricas e o teatro) e poética
(poesia palaciana) durantes os séculos XV e XVI. Prosa e teatro juntos revelam
as transformações de Portugal na política, na economia e na sociedade.
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