Dante Alighieri (1265-1321), foi um dos maiores poetas da tradição literária ocidental e é considerado o poeta nacional da Itália. Ele teve um impacto decisivo no desenvolvimento da Literatura italiana com contribuições significativas para o início do Renascimento. Muitas de suas ideias e temas foram desenvolvidos por escritores, artistas e pensadores posteriores.
Ele ajudou a moldar a
poesia do período e mudou decisivamente a direção da Literatura ocidental.
Dante (abreviatura de Durante) ajudou
a elevar o dialeto toscano à língua literária nacional da Itália. Estabeleceu
as línguas vernáculas (vulgares) como
línguas literárias e demonstrou que os grandes escritores não precisavam usar o
latim. Esta foi talvez sua maior contribuição para o Humanismo e o Renascimento.
Grande admirador da escola
siciliana, ajudou a popularizar o soneto seu
estilo mais importante de verso. Também ajudou a popularizar os temas da poesia
provençal na Itália. Esse tipo de poesia surgiu na Provença, sudoeste da
França. Trovadores provençais celebravam o cavalheirismo e especialmente o amor cortês, estilo de poesia que enaltecia
um amor inatingível, muito influente no Renascimento na Itália. Seu trabalho ajudou
muito a difundir as ideias de amor cortês pela Europa do século XIV ao XVI.
Impacto causado por Dante na separação entre religião e política durante o Renascimento
Embora o tema de A Divina Comédia (1308-1320) seja
religião e salvação, sua publicação é muitas vezes vista como o início do
Renascimento e o fim do período medieval tardio na Itália. Parece contraditório
o espírito do Renascimento, que exaltava os prazeres deste mundo e do
indivíduo, ter começado com uma obra voltada para a religião. Mas, para Dante,
este mundo tinha seu valor e méritos e não era uma antecâmara para o outro
mundo.
Ele não achava errado ser feliz e desfrutar desta vida. Segundo ele, salvação eterna e felicidade terrena não eram incompatíveis. Contribuir para a vida cívica e política era de fato uma postura virtuosa. Essa ideia provou ser muito influente sobre os humanistas posteriores, que desempenharam um papel crucial no desenvolvimento do Renascimento.
Grandes pensadores como Maquiavel
foram influenciados por Dante. Em seu principal trabalho político ele
argumentou que deveria haver uma separação entre Igreja e Estado. Isso
contribuiu muito para o pensamento político renascentista.
Essa separação entre a
Igreja e o Estado garantiu que os humanistas que o sucederam se sentissem
livres para se concentrar no mundo secular, ou seja, na condição de quem vive
no século, entre as coisas do mundo e da vida; o oposto do estado religioso, próprio
dos que fizeram votos. Também deixou claro que o envolvimento no mundo secular
não era incompatível com suas esperanças de salvação futura.
A política para ele era
uma habilidade e não deveria ficar restrita por preceitos teológicos. Suas
ideias também influenciaram alguns dos líderes da Reforma. O florentino exilado
ajudou a mudar o discurso sobre o papel da religião na Europa. Grande poeta e
teólogo religioso, sua concepção da dupla natureza do homem, uma terrena e
outra eterna, foi decisiva no desenvolvimento de sua doutrina política.
Os pensamentos e ações políticas de Dante
Dante também esteve muito
envolvido na vida política de Florença, região da Toscana. Em 1300, foi eleito
prior, um dos nove membros do governo local, por um período de dois meses. Esse
cargo foi a causa de seu infortúnio. Ele, como sua família, pertencia a uma das
principais facções da cidade cuja política era muitas vezes sangrenta.
Naquela época, as cidades
italianas estavam constantemente à beira de uma guerra civil entre os Guelfos, próximos ao Papa, e os Gibelinos, favoráveis ao Sacro Império
Romano-Germânico.
O poeta lutou na Batalha de Campaldino (1289) quando a
facção Guelfo da cidade derrotou os Arezzo
Ghibellines. Após a vitória, os Guelfos mudaram a constituição e, para
permanecer cidadão, Dante teve que se inscrever em uma Guilda, uma associação de comerciantes.
No entanto, como era
típico da política rebelde na Itália medieval tardia, os Guelfos logo se
dividiram em linhas ideológicas e se tornaram duas facções mutuamente hostis,
os Guelfos Brancos (o partido de
Dante) e os Guelfos Negros. Inicialmente
os brancos estavam no poder e expulsaram os negros de Florença, mas o Papa Bonifácio VIII planejou uma
ocupação militar da cidade.
Uma delegação de
florentinos, com Dante entre eles, foi enviada a Roma para verificar as
intenções do Papa. Enquanto ele estava em Roma, os Guelfos Negros destruíram grande parte da cidade e estabeleceram um
novo governo.
Em 1302, com base em
acusações amplamente falsas e fabricadas, um juiz ordenou que Dante e seus
aliados fossem queimados vivos, caso tentassem retornar a Florença. As
acusações incluíam fraude, extorsão, corrupção e até sodomia com um jovem. Dante
recebeu a notícia de que seus bens haviam sido confiscados e que ele era
considerado foragido e condenado ao exílio perpétuo.
Quando o Papa possibilitou que Dante retornasse à Florença, a cidade se encontrava sob o domínio de Carlos Valois, aliado do Papa. No mesmo ano, ele foi condenado a uma pesada multa, sob a acusação de corrupção no cargo público que ocupava.
Em 1315, o oficial militar
que controlava Florença concedeu anistia aos florentinos no exílio, mas o
governo da cidade insistiu que os expatriados que retornassem deveriam pagar
uma grande multa e fazer penitência pública. Dante se recusou, preferindo
permanecer no exílio.
A Divina Comédia – sua obra-prima
Em A Divina Comédia, sua obra mais relevante, Dante mudou
completamente as regras do jogo. Foi o primeiro poeta a escrever um livro de
tamanho impacto no vernáculo (língua vulgar) florentino, no século XIV. Isso
permitiu que o livro atingisse um público muito mais amplo, contribuindo
substancialmente para a alfabetização mundial.
O poema representa a
jornada da alma em direção a Deus. Na epopeia, Dante é guiado pela 'sombra' ou
espírito do grande poeta romano Virgílio.
É uma tentativa de demonstrar como os humanos podem se alinhar ao amor de Deus,
visto como a força fundamental do Universo.
Ao contrário do que muitos
pensam, o poema leva o nome de “Comédia” não por lançar mão de recursos de
humor. Na verdade, esse termo é o oposto de “tragédia”. O próprio nome do poema
indica que a história terá um final feliz para o protagonista.
No início, a obra foi
chamada apenas de Comédia e mais
tarde recebeu o adjetivo Divina, por
intermédio do poeta Boccaccio.
Considerada a primeira obra da Literatura italiana e mundial, sua grandeza não
se resume ao conteúdo e sim à forma, à qualidade de sua poesia e às rimas
extraordinárias.
Entre 1200 e 1300 a Itália
era uma nação dividida em diversas pequenas cidades-estados. Em cada uma delas
eram falados diferentes dialetos, chamados de línguas vulgares, ou seja, a língua comumente falada pela
população. Tudo era escrito em latim e o vernáculo era usado apenas para
escrever coisas de pouca importância.
Por que A Divina Comédia foi tão importante para o Renascimento?
Uma das características
distintivas da cultura da Idade Média era que o latim era considerado a única
língua adequada para obras literárias e filosóficas. Dante acreditava que as
línguas vernáculas eram veículos válidos para a expressão literária e também adequado
para certos gêneros como comédia, poesia e prosa.
Como já dissemos, Dante
escreveu A Divina Comédia em florentino,
mas emprestou outros dialetos regionais italianos e até o latim. A grande obra
de Dante ajudou a tornar o florentino a língua literária da Itália. A
influência de Dante durante o Renascimento se espalhou para o resto da Europa.
Isso persuadiu muitos
escritores e poetas, como Francesco
Petrarca e Giovanni Boccaccio, a abandonar o latim e a escrever em sua língua
nativa. Essa mudança teve consequências
que foram muito além do mundo literário. Foi assim que o vernáculo florentino
se tornou não apenas o dialeto mais popular da Itália como também o mais famoso
e prestigiado. Tanto que no resto da Itália falar florentino era considerado um
sinal de grande refinamento. Isso ajudou a desenvolver uma consciência nacional
durante o Alto Renascimento em
particular, o que é evidente nas obras de Maquiavel.
Até hoje o poema épico é
visto como referência para escritores, redatores e roteiristas, sendo
considerado uma das obras-primas de toda a História. Ao contrário dos poemas
épicos de Homero e Virgílio, que contavam os grandes feitos históricos de seu
povo, A Divina Comédia de Dante é uma
obra um tanto autobiográfica, ambientada na época em que viveu e povoada de
figuras contemporâneas.
Guiado primeiro pelo
personagem de Virgílio e depois por
sua amada Beatrice, Dante escreveu
sobre seu próprio caminho para a salvação pelo Inferno, Purgatório e Paraíso oferecendo julgamentos
filosóficos e morais ao longo do caminho.
Dante aproveitou A Divina Comédia para acertar contas com
muitos de seus inimigos, entre eles, o papa Bonifácio
VIII, para quem reservou um lugar no inferno. Pela monumental influência
que a obra exerceu sobre inúmeros artistas, Dante é considerado um dos maiores
escritores que já existiram. Como escreveu o poeta TS Eliot, "Dante e Shakespeare dividem o mundo entre eles, não
há terceiro".
O longo exílio de Dante
Por problemas estritamente
políticos, Dante foi acusado de improbidade administrativa e condenado a pagar
uma multa de cinco mil florins, a permanecer confinado dois anos e proibido de
exercer cargos públicos para o resto da vida (1303). Como negou-se a pagar a
multa ou a se justificar, foi condenado à morte, iniciando sua longa vida de
exílio. De Siena partiu para Verona e depois para Bolonha (1304-1306).
O exílio pode ter sido
difícil, mas o tornou extremamente produtivo. Ele acreditava veementemente que
sua relevância no cenário da Literatura seria suficiente para que o exílio
fosse revogado e ele pudesse voltar à Florença. Entretanto, por maior que fosse
o sucesso alcançado, seu exílio jamais foi encerrado.
Dante aceitou um convite
do governante de Ravenna para ficar
naquela cidade. Foi em Ravenna que o poeta terminou a última de suas grandes
obras e morreu em 1321, vitimado pela malária contraída nos pântanos de Veneza.
Em Ravenna, ele foi enterrado com grandes honras. Seus restos mortais nunca
foram devolvidos à Florença.
Casamento e amor platônico
Beatrice Portinari, que aparece em A Divina Comédia,
foi seu grande amor platônico. Ela tinha
apenas 9 anos e ela quase a mesma idade quando se conheceram. Beatrice foi
adotada como musa inspiradora em toda a sua obra. Ao completar 16 anos, ele
voltou a encontrá-la, presenteando-a com o primeiro de seus sonetos de amor.
Entretanto, aos 12 anos,
Dante se casou com Gemma Donati, esposa que lhe deu três filhos.
Prática comum à época, o casamento de Dante e Gemma já estava acertado entre as
famílias quando ambos ainda eram crianças.
Em 1290, Beatrice faleceu. Com
a morte precoce da amada, ele refugiou-se no estudo, entregando-se à leitura de
autores cristãos e clássicos como Boécio,
Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Aristóteles,
Ovídio e Lucano, atravessando um período de amadurecimento que o levou a
várias mudanças em sua produção artística. Dois anos depois, Dante escreveu Vita nuova como um canto de louvor ao
seu verdadeiro amor.
Obras literárias e filosóficas
La Vita Nova (A Nova Vida), é o relato em prosa e verso do amor de Dante por Beatrice Portinari, escrito na primeira pessoa. A narrativa começa a partir do instante em que ele a viu pela primeira vez quando tinha nove anos e ela quase a mesma idade dele. No texto em prosa e nos poemas Dante descreve seus sentimentos em diversas ocasiões.
Após a morte
de Beatriz, em 1290, o relato prossegue narrando o sofrimento pela perda
irremediável e as dúvidas e angústias do poeta até que ele resolve nada mais
dizer enquanto não puder falar dela “como jamais foi dito sobre mulher alguma”.
O Banquete – Dante, Petrarca e
Boccaccio também são chamados de "as três fontes" ou "as três
coroas". Que venham a e que todos nós nos sentemos juntos em uma mesa, para
o Banquete! Escrito em seus últimos dias, apresenta muitos de seus pensamentos
mais convincentes sobre como uma vida de maturidade e civilidade deve ser
conduzida.
De vulgari eloquentia (Sobre a eloquência vernácula) – ensaio escrito em latim, inicialmente pensando com quatro livros, mas abandonado no meio do segundo. O primeiro livro lida com a relação entre o latim e o vernáculo, e a busca por um vernáculo ilustre no território italiano. O segundo é uma análise do "canto", ou canção, um gênero literário.
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